ALVORADA

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Viemos de pés descalços,

Varrendo as pedras do chão.

Não temos um teto, um leito,

Tampouco trouxemos pão;

Trouxemos, sim, esperança,

Curtida em cada alvorada.

Não temos as mãos macias!

Temos a luva de calos,

A capa endurecida

Pela rudeza do trabalho;

Trazemos os olhos míopes

Pelas leituras tardias

Tentando encontrar respostas

Para essa saga tristonha,

Para essa angústia medonha,

Pra essa verdade da gente.

 

Nós viemos sem bagagem,

Do sol, do pó do deserto,

Dos becos, dos escritórios,

De fora, de dentro, de longe, de perto.

Nós viemos das calçadas,

Das fábricas, das favelas,

Dos cortiços, dos andaimes,

Da noite, do mar, da terra.

Nós viemos sem destino

Pra construir um destino

Que seja menos amargo,

Menos cruel, menos triste.

 

Nossos olhos são quase doces

De ternura e desencanto,

Mas a esperança teimosa

Que sobrevive no pranto,

Rebrilha nos nossos olhos,

Olhos que não brilham tanto.

 

Nós viemos, fugitivos,

Peregrinos sem pousada,

E aqui, aqui nesta praça,

Nesta cidade, nesta casa,

Vamos construir um lar,

Um mundo, uma vida, uma história,

Mesmo que sangrem as mãos,

Mesmo que rompam-se os calos,

Mesmo que tarde a alvorada!

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