A LEITURA É O CAMINHO

Ao ler o texto do colunista Milton Rondó (Carta Capital), intitulado ÁGUA E SILÊNCIO, OS BENS MAIS ESCASSOS DO SÉCULO XXI, vieram-me à memória alguns costumes que tínhamos há alguns anos, dentre os quais o de ler livros na rua. Era, senão comum, mais frequente encontrarmos um ou outro desses apaixonados por livros a ler em bancos de praças, ônibus, cafés, ou mesmo andando pelas ruas. Sempre fui desses que liam em qualquer lugar e em qualquer circunstância. Aliás, até hoje levo um livro comigo quando vou a algum lugar em que terei que esperar na fila — consultório médico, banco, aeroporto…
As mudanças ocorridas no comportamento coletivo passam, muitas vezes, despercebidas. Essa questão da leitura, que acompanhamos a partir de estatísticas anuais, quinquenais, decenais, tem sido posta à vista de quem se interessa em acompanhar o desenrolar da mudança de hábitos nesse setor que, convenhamos, é um processo de regressão social que tem progredido ininterruptamente, dia após dia, ano após ano, sem que, enquanto sociedade, tomemos qualquer atitude realmente significativa para contê-lo.
Em termos de poder público, é consabido que não existe interesse em que a população se volte para o livro. O livro, para a maioria dos governos (em se tratando do Brasil, eu diria que para todos os governos) é um elemento perigoso. O grande risco da leitura é que esta tem o poder de fazer o leitor pensar. A leitura informa, distrai, diverte, ensina, relaxa, mas não é só isso. Ler produz algo perigosíssimo para o sistema de exploração e opressão em que vivemos: induz à reflexão, estimula a imaginação e contribui decisivamente para proporcionar ao indivíduo a capacidade de compreender a realidade.
O livro — o hábito da leitura — habilita o indivíduo a pensar sua própria condição no mundo, a questionar a realidade em que vive (ou apenas sobrevive), se constituindo, assim, numa ferramenta poderosa de transformação social, o que, para os detentores do poder político-econômico, é uma heresia e algo totalmente inaceitável.
Estamos num momento crítico em que é necessário pensar: o que fazer? Quais os caminhos a seguir? Que medidas concretas poderiam ser adotadas para reacender o interesse popular pelos livros, o amor pela leitura? Toda contribuição é importante, toda ideia merece atenção.
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