O ESCRITOR E A PALAVRA

Ao encararmos a tela em branco do computador (antigamente, empunhávamos a caneta e nos debruçávamos sobre o papel — isso, antes de encararmos a folha em branco presa no rolo da máquina de escrever), tudo que nós (escritores e escritoras) temos é uma ideia e a intenção de realizá-la. A ideia, em si, não vem deste ou daquele lugar específico. Ela se forma a partir de uma série de fatores e circunstâncias que, de modo geral, nem percebemos. Por isso, costumamos dizer: tal coisa — ou tal fato — me deu uma ideia. Em verdade, tal fato ou tal coisa foi o estopim que acendeu aquela fogueira que já estava pronta, montada, galho por galho, tora por tora, aguardando apenas o estopim, a faísca, o incêndio.
É exatamente aí que a mágica acontece! O fogo crepita e a ideia toma forma, adquire corpo e matéria e se torna capaz de viajar até outras mentes, outras experiências, outros pensamentos. Como, porém, se materializa a ideia? Qual o instrumento poderoso do qual nos servimos para essa transformação do aparente nada em aparente tudo? O instrumento mágico que transforma a realidade é a Palavra.
Bendita Palavra, o milagre por meio do qual realizamos outros milagres! Essa é a matéria-prima do escritor: a Palavra! Indomável, livre, a palavra expõe pensamentos, revela desejos, desenha planos, conta segredos e realiza a parte mais complexa de toda a comunicação entre as pessoas.
O escritor é um domador de palavras. É com a palavra que o escritor se constitui. É pela palavra que ele sintetiza emoções e ressignifica o mundo. É na palavra que esse artista do invisível cria — cria personagens e mundos, cria formas de sentir e de encontrar sentimentos, refaz a realidade, renova o que envelheceu, costura o espaço, atualiza o saber, enrola e desenrola o tempo, conta histórias, inventa e reinventa a vida.
É domando a palavra que o escritor cria personagens e mundos. É despindo a palavra que ele atravessa o delicado portal que tem a intenção — apenas a sutil intenção — de separar o sonho da realidade. É redimensionando a palavra, se apropriando dela, servindo-se de sua força e de sua essência que o escritor rompe todas as fronteiras erguidas entre a realidade e a fantasia.
O escritor amplia o mundo! Melhora-o! Eterniza-o! Concretiza todos esses milagres pela palavra. Este é o mistério: como em um cardume no mar, num enxame ou panapanã nos ares, num formigueiro sob a terra, cada palavra é única e exclusiva, e é preciso capturá-la, limpá-la, vesti-la, amá-la e libertá-la para que ela realize sua obra monumental no seio da humanidade. E é o escritor que faz isso!
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