PARA QUE SERVE A ESPERANÇA
Em O Legado do Profeta, Livro Um da trilogia épica A Honra do Clã (Opera Editorial, 2023), mais precisamente na Parte 2, Capítulo 18 (Lendas), uma discussão envolvendo os membros do Conselho da Convergência remete o leitor a dois conceitos fundamentais: memória e esperança. Eis o texto:
“— Mas não parou aí. — insistiu Ekaterian Borne. — Séculos depois, por conta de disputas entre si, uma aliança pontual se mostrou necessária, a partir de semelhanças culturais e geográficas, interesses comuns, tendo ocorrido, gradativamente, o fenômeno das alianças entre os Clãs que, demonstrando sua conveniência, acabou por tornar-se permanente. Em poucos anos, a partir do início dessa prática, os dez Clãs uniram-se de dois em dois, estabelecendo uma aliança permanente e constituindo as cinco Regiões que formam Nahiyar.
— E? — indagou Kunta Jau.
— E nos constituímos sob uma promessa, Kunta Jau. — asseverou Ekaterian Borne. — Uma promessa.
— O Papiro do Profeta. — disse Myra Kora.
— Isso! — concordou Ekaterian. — Esta é a nossa unidade.
— Não temos o Papiro do Profeta, Borne, ainda não o encontramos. — alegou Kunta Jau. — Por isso, ainda não somos um. Tudo que há é a expectativa, tanto de uma coisa como da outra.
— E o que fazemos com a esperança, Kunta Jau? — perguntou Ekaterian Borne.
— Ora, cada um faz o que quer. — respondeu Kunta Jau, achando tudo aquilo muito maçante e sem sentido.
— Nós a abraçamos. — disse Ekaterian Borne, com paixão. — Nós a acalentamos e caminhamos em direção a ela até que ela se transforme, até que deixe de ser esperança e se torne realidade.”
O Conselheiro Ekaterian Borne evoca a memória histórica dos povos de Nahiyar para conclamar os demais a abraçarem a esperança. Se, de um lado, o ceticismo de Kunta Jau representa a impaciência de quem aguarda um acontecimento há várias gerações, o esforço de Ekaterian Borne é no sentido de motivar o grupo à reflexão sobre o significado de acreditar, de agir sob o impulso vitalizante da esperança.
As decisões que serão tomadas por esses homens e mulheres não serão fáceis, sobretudo diante das circunstâncias que permeiam esse momento decisivo na história dos povos de Nahiyar. É uma encruzilhada histórica, um instante singular, onde se teme uma possível guerra e muitas coisas começam a acontecer num turbilhão de revelações e eventos incontroláveis. Por isso, é preciso ter esperança, uma esperança alicerçada na memória, na história e na promessa.
Como disse Ekaterian Borne, é preciso abraçar a esperança.
Junte-se ao Clã!