PRÓLOGO

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A grande janela estava aberta para o leste. O sol despontava sobre o mar e as cores inundavam o mundo. Um vulto de mulher se desenhava, emoldurado pela janela, imponente e belo, diante do sol da manhã. Sua pele negra era lisa e firme. Ela estava vestida com uma leve túnica roxa e, sobre um móvel, repousava um turbante da mesma cor. Era uma sacerdotisa-mor. Ela tinha os olhos fechados e as mãos espalmadas, erguidas à altura dos ombros, os braços parcialmente abertos. Estava fazendo suas orações.

A milhares de quilômetros dali, um homem e uma mulher jovens lançaram um último olhar ao barraco onde viveram nos últimos meses e iniciaram uma longa jornada, acompanhados pelo casal de filhos gêmeos. A esperança os impulsionava, a última, a mais obstinada. Haviam chegado ao limite e era preciso ultrapassá-lo, se quisessem sobreviver.

Não muito longe, na periferia de uma grande cidade, numa rua estreita, uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis saiu de uma casa pequena e caminhou, encurvada, agarrada ao xale puído, enfrentando o frio, na direção do rio. Era viúva e tinha cinco filhos para criar: uma matashi, que logo teria quinze anos, e mais dois meninos e duas meninas, todos mais novos. Tentava se concentrar no presente e não pensar no futuro. Tudo parecia incerto e ela precisava alimentar a prole.

Na cidade mais ao norte do país, o Kwamishian subiu à sela e saiu cavalgando lentamente pela rua de terra. Sorriu para si mesmo e agradeceu mentalmente ao Criador por mais um dia!

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