O MAGAJI E A VIDENTE

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(Trecho do capítulo 23 de O Legado do Profeta).

Tashin Hankali, herdeiro de Turmalina, estava com seu exército em Kyau, a cidade às margens do Rio Claro. Tashin contemplava a enorme largura do rio e suas águas tranquilas, que nasciam no Monte Claro e iam mais ao norte derramar-se nas águas do longo Rio Vermelho. Em volta de Kyau e pela margem do rio, erguia-se o acampamento dos Mazaunin Turmalina. O sol iria se pôr dentro de alguns minutos. Tashin tinha consigo uma mulher pálida, de olhos pequenos, puxados, envolta em uma túnica verde-claro que lhe chegava aos tornozelos. Era uma vidente. Tinha quase a sua idade e era só um pouquinho mais alta. No Oeste, mulheres tinham pouca importância, mas, ainda assim, uma ou outra possuía alguma voz. Mai Gani era uma delas. Ela disse, com o olhar nas águas do Rio Claro:

— Eu vejo coisas estranhas, magaji.

— É o que se espera de uma vidente prestes a entrar em Yankin, Mai Gani. — disse Tashin Hankali. — O que você vê, precisamente?

— Guerra! — respondeu a vidente.

— Entre nós? — perguntou Tashin Hankali.

— Não sei dizer. — respondeu Mai Gani. — Mas haverá mortes.

— Eu sobreviverei? — indagou Tashin Hankali.

— Não vejo os rostos de quem morre e de quem vive, magaji. — respondeu a vidente.

— Então, Mai Gani, por enquanto, suas visões não terão muita utilidade para mim. Espero que isso mude. — disse Tashin Hankali, afastando-se. A vidente permaneceu ali, com o capuz sobre os cabelos pretos, olhando o movimento leve das águas.

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