SIM JU TAY

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(Trecho do capítulo 30 de O Legado do Profeta).

Por volta da nona hora, quando pararam para acampar na vastidão do deserto, Sim Ju Tay, sacerdote-mor de Turmalina, afastou-se uma centena de metros do acampamento para fazer suas orações. O sol o castigava, mas seu turbante de sacerdote protegia sua cabeça. Ele se debatia entre duas crenças sobre o que acontecia com o indivíduo depois da morte. Uma corrente dizia que quando o Mazaunin morria, seu corpo retornava ao pó, onde sua consciência deixava de existir e ele permanecia numa espécie de sono profundo, alheio ao tempo e ao mundo, até ser despertado um dia para uma nova vida… A outra corrente ensinava que os Mazaunin mortos iam para algum lugar, onde viviam uma vida diferente, desconhecida. Que os que morriam em batalha, a serviço do Criador, iriam para o paraíso. Mas ele não sabia em que acreditar. Vira os homens morrerem aos montes lutando entre si, durante o motim de Merrezir, e nessa noite, novamente os tinha visto morrer às dezenas nas garras das criaturas do deserto. Sim Ju Tay pediu iluminação ao Criador, pois não conseguia entender esses mistérios e não sabia em que acreditar. Quando alguém lhe perguntava para onde iam os mortos, ele preferia dizer aquilo que melhor confortasse quem perguntava, porque ele mesmo não sabia. Só sabia que os sonhos eram frágeis, assim como a vida, e muitos dos que haviam deixado Nahiyar cheios de esperanças e sonhos agora tinham suas cinzas sopradas pelos ventos de Yankin. Sim Ju Tay se sentiu triste e desolado naquela imensidão e suplicou ao Criador que tivesse misericórdia daqueles homens. Ficou algum tempo ali, sentado no chão quente, observando os Mazaunin levantarem as tendas e armarem pequenas fogueiras, porque ali a madeira era escassa, talvez nem encontrassem madeira por muitos e muitos quilômetros. Talvez as carroças carregadas de madeira tivessem lenha suficiente para as noites geladas do deserto, mas, de qualquer modo, quando a carga de madeira acabasse, teriam carroças vazias para queimar.

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