O COMPROMISSO DO ESCRITOR

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Na introdução do meu livro O Tocotó de Mulifange (vencedor do Prêmio Profª. Zélia Saldanha, categoria livro de contos, UESB, 2001), afirmo que “a literatura, enquanto arte, tem como característica inata contribuir para o desenvolvimento geral do indivíduo e da sociedade” (O Tocotó de Mulifange, Ed. Uesb, 2002, p. 13). Isso pressupõe que o escritor é um agente de desenvolvimento pessoal e coletivo. Nessa linha de pensamento, escrever não deve ser apenas um deslizar de palavras numa folha de papel, mas, acima de tudo, a produção de um conteúdo significativo, útil, precioso para as pessoas.

Claro que nem toda literatura é voltada para o tratamento das mazelas humanas, nem tem que ser, obrigatoriamente, destinada a tratar especificamente ou diretamente de qualquer tema de ordem social ou política, por exemplo. Isso, se fosse exigido, desvirtuaria a produção literária. Isto porque literatura é, essencialmente, liberdade. A criação literária é livre em sua gênese, é liberdade pura, no sentido de que a mente do escritor deve inventar, interpretar, contar, expressar sem amarras, sem condicionamentos e sem intimidações.

Um livro (ou outro texto qualquer) que não trate, por exemplo, direta ou indiretamente, de problemas sociais, não significa que não esteja comprometido com seu tempo e seu lugar na sociedade. De diversas maneiras, a literatura produz resultados. O leitor é um indivíduo em crescimento permanente, ainda que empregue seu tempo na leitura de obras denominadas (pejorativamente ou não) de “água com açúcar”. Toda leitura é um aprendizado!

Há obras, entretanto, que se permitem uma abordagem mais objetiva em terrenos de discussão social, filosófica, política, embora se classifiquem como obras de ficção. Cito três exemplos magistrais: Vidas Secas, de Graciliano Ramos, Os Miseráveis, de Vítor Hugo e Germinal, de Émile Zola. Poderia citar centenas ou milhares (Dostoiévski, Orwell, Dickens, Jorge Amado, Isabel Allende) e por aí vai.

A desigualdade social é uma realidade que caracteriza não apenas o Brasil, mas, praticamente todo o mundo. Pelo menos, a maior parte dele. E nossa opção em tratar desse tema em particular, dentre tantos outros que abordamos em nossa obra, deriva exatamente dessa compreensão da responsabilidade do escritor e do uso que cada um escolhe fazer da liberdade temática e criativa da escrita. A Honra do Clã se propõe a estimular a reflexão a respeito desse tema universal por meio de personagens magníficos, que questionam a realidade social e buscam, como todos nós, compreender as origens e o desenvolvimento desse indesejável fenômeno, tão característico de nosso tempo, que é a desigualdade social. Vamos pensar juntos?

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