ESSA “ALMA INSURRETA”

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“Trago, em mim, a alma insurreta dos bárbaros,

e, nos veios da goela, o canto nagô da África.”

No belíssimo Auto da Gamela, Carlos Jehovah e Esechias Araújo Lima oferecem aos leitores poemas carregados de dor, força e humanidade. Na beleza de sua poesia crua, os autores rasgam o coração de quem as lê. No primeiro poema do Canto VII, “O Canto Profético de João Gafanhoto”, nos deparamos com os versos transcritos acima. Dois versos carregados de significado.

A alma insurreta que caracteriza os personagens do canto de João Gafanhoto é a mesma que dá vida a personagens magistrais da literatura, como Edmond Dantès, Oliver Twist, Tom Sawyer, Alice, D. Quixote, Diadorim e tantos outros. Essa “alma insurreta” é, sem dúvida, o cerne dos grandes personagens da literatura universal. Esse senso profundo de si mesmo, essa vontade inquebrantável, algo que compõe a essência da personagem e que ela própria, muitas vezes, demora a perceber ― e mais ainda a compreender.

O “canto nagô da África” soa para nós como símbolo e expressão de resistência. Observe que esse canto não é suave nem leve, mas se projeta dos “veios da goela”, das profundezas do ser, forte, intenso e marcante. A resistência às adversidades, à opressão, às maldades, às desventuras e, não raro, a si mesmas, é característica das personagens mais emblemáticas, mais fortes, mais decisivas concebidas pelo gênio dos escritores e escritoras em todas as épocas. Veja-se, por exemplo, Raskólnikov, Ana Karenina, Teresa Batista.

Essa insurreição basilar, essa resistência fundamental da alma humana, que aflora em tantas e tantas personagens, exerce inegável fascínio sobre os leitores e estudiosos da literatura. Ocorre-me, agora, um personagem do qual pouco se fala, Yancey “Cimarron” Cravat, problemático e altruísta, que é um bom exemplo desse tipo de personagem difícil de esquecer.

Tais considerações nos levam, naturalmente, à trilogia A Honra do Clã. Personagens emblemáticos nos “convidam para dançar” a cada página, nos fazem refletir sobre nós mesmos, quem somos, o que somos e porque somos. Como digo em um dos textos que estão publicados aqui mesmo no blog (Mil Razões Para Escrever), “todos os personagens, talhados na profundidade da verdade humana, tratam de questões que afetam a eles e a nós”. A riqueza da alma humana consiste em algo transcendental que nos molda, nos define e orienta todas as nossas ações. Não podemos fugir de nós mesmos e as personagens que nos marcam mais profundamente são aquelas que têm conosco esse traço em comum, essa riqueza interior, essa extraordinária humanidade.

Junte-se ao Clã!

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